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UM NOVO RECOMEÇO PARA O MARANHÃO

Por Abdon C. Marinho*.

Numa cidadez­inha pequena do nosso longíquo sertão nordes­tino, há muitos os dois gru­pos políti­cos se diglad­i­avam a cada eleição pelo comando da urbe. O grupo gov­ernista já havia per­dido as con­tas dos anos em que estava no poder.

Na oposição, emb­ora os can­didatos para a dis­puta se rever­sassem, con­tava com um “balu­arte” firme, que não arre­dava o pé. Estava sem­pre lá con­solando os der­ro­ta­dos e crit­i­cando o grupo gov­ernista.

Até que, quando ninguém mais acred­i­tava que pudessem vencer, a oposição sagrou-​se vito­riosa. Apu­ra­dos os votos é tida a vitória por inques­tionável, na casa do “chefe político” ou do prefeito eleito, a festa “troava”, muita comida, muita bebida e até mesmo um grupo de “forró de pé de serra” foi escal­ado para ani­mar a comem­o­ração que ameaçava não ter hora ou dia para acabar, depois de tão longo jejum.

Acabrun­hado em um canto da sala lá estava aquele velho “balu­arte” da oposição numa tris­teza de inco­modar a todos, a ponto de chama atenção até do can­didato eleito (pense numa coisa difí­cil de dar atenção depois de uma vitória). Mas, o “nosso” balu­arte, naquela tris­teza incô­moda, con­seguiu.

O eleito chegou pra ele para agrade­cer (outra coisa difí­cil de se vê): — muito obri­gado, meu com­padre. Vence­mos e parte dessa vitória deve­mos a você que sem­pre esteve firme, nunca arredou o pé da nossa luta é da nossa causa. Muito obri­gado, mesmo. Mas, me diga meu com­padre, por que você está tão triste depois de vitória tão bonita e sur­preen­dente quanto essa?

O velho balu­arte então respon­deu: —pois é, meu com­padre, final­mente vence­mos. E estou triste por causa disso, depois de anos jun­tos nessa luta con­struí­mos uma amizade e agora ter­e­mos que nos afas­tar pois o que eu sei mesmo fazer é oposição.

E foi para oposição tão logo o gov­erno ini­ciou.

Quem contou-​me, há décadas, a pre­sente história, com a riqueza de detal­hes que só os fatos verídi­cos pos­suem, foi o ex-​deputado Ader­son Lago. Deu os nomes dos per­son­agens e da local­i­dade onde passou-​se a nar­ra­tiva.

Dava-​se com o “balu­arte” oposi­cionista acima, basi­ca­mente o inverso do que ocorre com o nosso “cen­trão”, acos­tu­mado a ser gov­erno desde que Cabral por aqui chegou nos idos de 1.500, e de quem contaram-​me outra história deli­ciosa.

Rindo a não mais poderem, jor­nal­is­tas que “cobrem” a cena política nacional, relataram que logo depois da eleição ou da posse do novo gov­erno fed­eral, alguém indagou, em uma reunião de impor­tante leg­enda: — e aí pres­i­dente (citou o nome) vamos para o gov­erno? O pres­i­dente, que fora impor­tante min­istro do gov­erno der­ro­tado respon­deu: — não, vamos para oposição.

Com inco­mum sin­ceri­dade, outra lid­er­ança da leg­enda e que estava próx­imo obser­vou: — se vamos ficar na oposição ter­e­mos que fazer um curso inten­sivo rápido.

Um outro, com idên­tica sin­ceri­dade, acres­cen­tou: — sei não, mas sap­ato branco e oposição, acho que só fica bem nos out­ros.

As comen­taris­tas caíram na gar­gal­hada e eu mesmo, assistindo pos­te­ri­or­mente o pro­grama, não me con­tive no riso.

Narro as his­to­ri­etas acima para dizer – como faço ao longo dos anos –, que é desprovido do sen­ti­mento que nor­teou a vida do “balu­arte oposi­cionista” da primeira história e sem – nem de longe –, imag­i­nar que “sap­ato branco e oposição só fica bem nos out­ros” que traço as con­sid­er­ações sobre o “novo governo”.

O título, “um novo recomeço para o Maran­hão”, antes de ser um dis­curso ufanista é um chama­mento e um desejo.

Muito emb­ora o “novo” gov­erno seja uma con­tin­u­ação de um ini­ci­ado há quase um ano e, por derivação, do que se instalou em 2015, quero acred­i­tar que trata-​se de uma nova gov­er­nança, com um novo estilo de gov­ernar próprio, cor­re­lação de forças artic­u­ladas pelo próprio gov­er­nante e por aux­il­iares escol­hi­dos, na medida do pos­sível, para exe­cu­tar as políti­cas públi­cas imag­i­nadas e dese­jadas pelo atual gov­er­nador.

Por tudo isso, muito emb­ora já ten­hamos ultra­pas­sado a quadra car­navalesca, con­sidero que o novo gov­erno se ini­cia a par­tir de agora, da posse do novo sec­re­tari­ado e dos demais aux­il­iares, como “novo”.

A par­tir de agora, os acer­tos e erros, serão deb­ita­dos e cred­i­ta­dos na conta do atual gov­er­nador.



Achei alvis­sareira a ini­cia­tiva de empos­sar o sec­re­tari­ado na região tocan­tina, em Imper­a­triz, a nossa cap­i­tal do Maran­hão do Sul. Quiçá tal prática se torne uma rotina, que gov­erno e assem­bleia leg­isla­tiva deslo­quem, vez ou outra, suas ativi­dades para alguma região do estado, Bal­sas, Baca­bal, Barra do Corda, Timon, Cax­ias, Coroatá, Maraçacumé ou Zé Doca e tan­tos out­ros municí­pios com­por­tam tal “itin­erân­cia”.

Inte­ri­orizar as ações do gov­erno e dos poderes é uma neces­si­dade para tornar a ativi­dade gov­er­na­men­tal mais próx­ima dos administrados.

Claro que essa inte­ri­or­iza­ção não deve ocor­rer como uma espé­cie de “chegada das cortes por­tugue­sas”, tumul­tuando a vida das pes­soas e alterando suas roti­nas, mas de forma disc­reta e sem muitos cus­tos para o com­balido estado é pos­sível se fazer “presente”.

Nos anos de exper­iên­cia, aprendi que gov­ernar é con­duzir uma loco­mo­tiva em movi­mento. Inde­pen­dente do dia da sem­ana ou da data fes­tiva ou mesmo das posses de autori­dades, os prob­le­mas que recla­mam soluções estão ocor­rendo, o hos­pi­tal pre­cisa está aberto para rece­ber o paciente, o cura­tivo pre­cisa está à dis­posição, a merenda esco­lar pre­cisar chegar na hora do recreio das esco­las, a polí­cia pre­cisa ficar a pos­tos para evi­tar e com­bater a vio­lên­cia, os sindi­catos estão na outra ponta pres­sio­n­ando por mel­hores salários e condições de tra­balho – mas se aten­der o primeiro item já se dão por sat­is­feitos –, e por aí vai.

Quem assume um cargo público pre­cisa se doar e está preparado para “servir o público” todos os dias.

Outro dia, acho que na quinta-​feira, com pil­héria, um amigo aden­trou ao meu escritório e foi inda­gando: — ei, Abdon, não fos­tes con­vi­dado para tomar posse em alguma sec­re­taria do gov­erno lá em Imperatriz?

Sem perder o clima da piada e lem­brando da velha lição de Tan­credo Neves, respondi-​lhe: — rapaz, até o gov­er­nador me con­vi­dou, mas recu­sei, estou sem muito tempo, a saúde já não ajuda, achei mel­hor dec­li­nar. Rsrsrs.

Aproveita­mos para rir da situ­ação.

Mas, voltando ao assunto sério, sendo a gov­er­nança uma loco­mo­tiva em movi­mento, difi­cil­mente os execu­tores das ativi­dades “de ponta” têm o tempo necessário para pen­sarem muito além de man­ter a máquina fun­cio­nando, de man­ter o trem em movi­mento.

Como disse em tex­tos ante­ri­ores, acred­ito que o Maran­hão vive um bom momento, vive boas per­spec­ti­vas de futuro, são os por­tos, são as fer­rovias, é o pro­jeto aeroe­s­pa­cial, é tur­ismo nos vários pon­tos do estado, são os empreendi­men­tos agrí­co­las nas diver­sas regiões, etcetera.

E nem fale­mos da Zona de Expor­tação do Maran­hão — ZEMA, pro­jeto pelo qual o ex-​senador Roberto Rocha tanto se bateu nos últi­mos anos e que não pode ser deix­ado de lado ou esque­cido, ainda mais por “picuin­has” políti­cas.

Ainda espero que nos anos que me restam – e que serão muitos –, alcançar a nossa Baía de São Mar­cos com um movi­mento idên­tico à de Sin­ga­pura, ou de Hong Kong, ou Taiwan …

Daí ter achado de grande sig­nificân­cia a manutenção do ex-​governador José Reinaldo Tavares na sec­re­taria de pro­je­tos espe­ci­ais e, como já disse em outra opor­tu­nidade, tal sec­re­taria pre­cisa de mais “reforços int­elec­tu­ais e finan­ceiros” para fazer sair do plane­jado para a real­i­dade os grandes pro­je­tos que se desen­ham para o Maran­hão, fazendo com que os mes­mos se rever­tam em bene­fí­cio de todos os maran­henses e não como meros “enclaves econômi­cos”. O ex-​governador é a pes­soa certa, no momento certo, para tal mis­são.

Lá atrás, há uns trinta anos, quando o Ceará deixou de ser um “estadeco” de coro­néis e exper­i­men­tou grande desen­volvi­mento econômico, imag­inei o Maran­hão pode­ria seguir o mesmo cam­inho – o que ainda não acon­te­ceu.

O nosso estado é “uma anom­alia econômica” pois é ina­cred­itável que com tan­tos recur­sos nat­u­rais e uma posição geográ­fica única não tenha con­seguido romper as bar­reiras do atraso.

Esta­mos diante de uma nova grande opor­tu­nidade para o desen­volvi­mento do estado, os gov­er­nantes não têm o dire­ito de des­perdiçarem tal chance.

Que o novo gov­erno se torne, efe­ti­va­mente, “um novo recomeço para o Maranhão”.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

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