Paraíba, sim, senhor. Preconceitos e falsas vítimas
Por Abdon Marinho.
Vez ou outra me assombra uma pergunta: quando nos tornamos arrematados idiotas manipuláveis?
O fim de semana que deveria ser dedicado ao lazer foi tomado por um falso escândalo de preconceito envolvendo o presidente da República e falsas vítimas representadas pelo governadores do Nordeste.
Estes, sobretudo, o do Maranhão, valendo-se dos recursos públicos, seja diretamente ou por meio da mídia devidamente remunerada, tem aproveitado para “se vender” de vítima ao tempo em que reforça determinados preconceitos.
A falsa polêmica tem início com uma frase do presidente da República, Jair Bolsonaro, que disse para um ministro em um áudio captado durante um café da manhã: “Daqueles governadores de ‘Paraíba’ o pior é o do Maranhão. Não tem que ter nada com esse cara”.
O senhor Bolsonaro – já disse diversas vezes –, é o maior “inimigo” de seu governo, principalmente pela falta de freios na língua, que, como se dizia lá no sertão nordestino, “é o castigo do corpo”. O governo iria até bem se não fosse as colocações ou intervenções intempestivas de seu comandante.
Mas, em relação a última frase do presidente, a quem imputam xenofobia e/ou preconceitos, acredito que ambos os sentimentos revelam-se inseridos mais nas falsas vítimas do que no presidente.
Explicarei de outro modo e com um exemplo prático.
Sempre que escrevo algo que o Palácio dos Leões não gosta aparece algum xerimbabo para tentar me ofender (até senti falta de ler alguma tentativa de ofensa sobre um dos últimos textos: “Sarney & Dino e o acordo que não ousa dizer o nome”), ora me chamam de aleijado, pato manco, ora insinuando que não tive pleitos atendidos; ora que seria “viado”, etc.
Vejam que são pessoas que, direta ou indiretamente, recebem dos cofres públicos, do meu, do seu, do nosso dinheiro para “tentarem” assacar contra a honra alheia.
E digo “tentarem” porque em relação a minha pessoa nada do dizem me atinge. Não vejo demérito em ser deficiente físico, até porque sê-lo não dependeu de escolha minha; com relação a supostos pleitos não atendidos trata-se apenas de uma mentira e a insinuação de “viadagem” não me atinge porque não me acho melhor que nenhuma pessoa, tenha ela a situação sexual que tenha.
Pois bem, voltando a fala do presidente, existe algo demais em sermos chamados de “paraíbas”? A caso somos melhores que nossos irmãos paraibanos, pernambucanos, cearenses, potiguares, baianos ou os oriundos ou nativos de quaisquer outros estados da federação? O preconceito ou xenofobia é do presidente ou de quem se considera ofendido por ser chamado de “paraíba”?
Ademais há que se considerar que o termo “paraíba” encontra-se dicionarizado desde meados do século passado, servindo para designar, em suas diversas acepções, de forma coloquial o operário não qualificado da construção civil; ou, como regionalismo, fincado no Rio de Janeiro (ainda que pejorativo), para designação de quaisquer pessoas oriundas dos estados do Nordeste; ou nordestino.
Os “politicamente corretos” vão censurar os dicionários?
Assim, embora, o presidente da República tente “consertar” para dizer que fez uma crítica aos dois governadores do Nordeste (da Paraíba e do Maranhão), acredito mesmo que tenha usado do regionalismo do seu estado para se referir a todos os governadores.
Não foi ele que criou o termo ou o único a utilizar para se referir aos nordestinos em todo o Brasil, embora não fique bem a um presidente da República ser “apanhado” com este tipo de colocação – ainda que numa “conversa privada”.
O presidente é de todos os brasileiros jamais devendo referir-se às pessoas por suas origens.
Por outro lado, o preconceito, ao meu sentir, não é dele, mas sim daqueles que se acham “ofendidos” por serem referidos como habitantes de um dos estados do Nordeste de povo mais aguerrido.
Fico pensando o que passa pela cabeça de um paraibano: Quer dizer que ser chamado de “paraíba” é uma ofensa para os meus irmãos nordestinos?
Ainda me valendo das aulas de interpretação de texto do ensino primário e reconhecendo que presidente possui um vício de linguagem: fala de forma “cortada”. Ainda mais numa conversa privada, seja na versão dele, ao dizer que referia unicamente aos dois governadores (da Paraíba e do Maranhão), ou na interpretação da versão “estendida”, se referindo a todos os governadores da região Nordeste, não cabe dizer – até por uma questão de honestidade intelectual –, que houve uma referência ou “ofensa” aos milhões de irmãos nordestinos.
Em um ou noutro caso – dê-se a César o que é de César –, a referência é feita aos governadores: da Paraíba e do Maranhão – ou de todos os estados do Nordeste –, mas não ao povo nordestino.
A situação posta, com suas interpretações apaixonadas, faz muito parecer aquelas brigas infantis em que o menino fica provocando os outros maiores e quando leva um safanão corre para chorar debaixo da saia da mãe.
Os governadores do Nordeste, principalmente o do Maranhão, todo dia, o dia todo, ao invés de governar, se ocupa em tentar “aparecer” aí ao ganhar “atenção” corre para se vitimizar usando, covardemente, toda a população do estado como “escudo humano”.
Veja, embora o presidente da República tenha dito “não tem que ter nada com esse cara”, não temos notícias, nestes seis meses de governo, de nenhum ato discriminatório da parte do governo federal contra o nosso estado. Pelo contrário, o que sabemos é que o projeto do senador Roberto Rocha de implantar a Zona de Exportação do Maranhão — ZEMA, avança; sabemos, também, que depois de anos paralisado, finamente começa a deslanchar o projeto de explorar comercialmente o Centro de Lançamento de Alcântara; sabemos que se encontra em estudos um ramal ferroviário ligando Balsas à ferrovia Norte-sul e a conclusão desta até o Porto do Itaqui e, ainda se tem notícias de diversos outros projetos em andamento para o estado, como BR 308, indo de São Luís a Belém pelo litoral; a complementação da BR402, de Barreirinhas até Parnaíba – e de lá para o restante da região.
Mas há um ditado popular – muito dito no nosso sertão –, que diz: “quem disso usa, disso cuida”, que serve muito bem para justificar todo esse escarcéu encenado pelo governador e seus aliados, nas diversas mídias e redes sociais – além, claro, do extraordinário desejo de aparecer.
Não sei dos demais estados do Nordeste, mas nós maranhenses acompanhamos como o governador e seus asseclas tratam a oposição do estado (e mesmo alguns aliados), não lhes dando qualquer “refresco”. Quem é o prefeito oposição –ou mesmo de situação –, que é bem tratado pelo governo? Que deputado de oposição tem emendas parlamentares liberadas? Quem não lembra a forma como os candidatos de oposição nos municípios foram tratados pelo governo estadual nas eleições de 2016? Quem não conhece (ou já ouviu falar) na “máquina” de destruir reputações sob orientação do governo?
Em data recente, no Congresso Nacional, dois delegados (ou ex-delegados) foram ouvidos e denunciaram investigações clandestinas contra alvos escolhidos pelo governo, fossem de oposição ou mesmo aliados.
Os delegados confirmaram o que é voz corrente no estado.
A situação da oposição no estado é tão vexatória que na Assembleia Legislativa a base governista não os deixa aprovar um requerimento de informação, um convite para um secretário ou qualquer autoridade, prestar algum esclarecimento.
Vejam que belo exemplo de democracia e republicanismo!
Mas não fica só nisso, as ações contra jornalistas e blogueiros propostas pelo governador e por seus secretários e aduladores são contadas às centenas, como forma de calar ou de coagir estes profissionais a aderirem ao governo.
Noutra quadra, não é segredo para ninguém que sua excelência, transformou o Estado do Maranhão em “bunker” contra o governo federal, em especial contra o presidente Bolsonaro, não lhe reconhecendo a vitória nas urnas, fustigando-o dia sim e no outro também, e não permitindo, sequer, que foto oficial do presidente da República cruze os umbrais do Palácio dos Leões. Queria ser tratado com flores?
Embora não me cause surpresa, o que acho em demasia é o fato do governador do estado, demonstrar-se tão valente quando se trata dos mais fracos, tentar usar, com mentiras e meias verdades, a população do estado – e do Nordeste –, como escudo humano nos seus enfrentamentos políticos.
Isso, sim, é uma vergonha!
No sábado, enquanto esta falsa polêmica atingia o seu pináculo, ouvia músicas diversas – nem pretendia escrever sobre isso –, e dentre os artistas estava Alcione Nazaré, maranhense, radicada há muito tempo no Rio de Janeiro, que também vestiu-se de ofendida com o fato do presidente da República ter se referido aos nordestinos como “paraíbas”. Lembrei-me de uma de suas músicas: “A Loba”, que numa de suas passagens diz que “chumbo trocado não dói”.
A falsa polêmica é alimentada pelos preconceitos dos falsos ofendidos que acreditam ser uma ofensa ser comparado a alguém de um estado-irmão e do próprio interesse de aparecer.
No mais, somos todos “paraíbas” e nordestinos, com muito muito orgulho! Viva o Nordeste! Viva o povo brasileiro!
Abdon Marinho é advogado.